O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, criticou a postura dos governadores bolsonaristas que criaram o chamado "Consórcio da Paz", entre eles Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Cláudio Castro (PL-RJ), afirmando que essas lideranças fazem "demagogia política" com o tema da segurança pública. A declaração foi dada na noite de segunda-feira (3), durante um evento do grupo Esfera, lobby fundado pelo empresário João Camargo, que se notabilizou por apoiar o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Mesmo em um ambiente dominado por empresários e políticos conservadores, Boulos manteve o tom crítico e defendeu reforço do papel da União no combate ao crime organizado, ecoando a disputa entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e governadores alinhados à direita sobre o controle federativo da segurança pública.
"O problema do crime organizado não é só do Rio de Janeiro, é do Brasil. Minha pasta não cuida disso, é o Ministério da Justiça e Segurança Pública. O Ministério apresentou, já faz meses, a PEC da Segurança Pública, no Congresso Nacional. Os mesmos governadores que hoje fazem demagogia política foram contra a PEC. O que a PEC permite? Que o Governo Federal tenha mais instrumentos para combater o crime organizado. Nenhum estado tem condições de combater o crime sozinho", afirmou Boulos.
Na prática, enquanto o Planalto defende um modelo coordenado entre União e estados, os governadores bolsonaristas tentam centralizar o protagonismo nas polícias locais — movimento que se intensificou após a Operação Contenção, ordenada por Cláudio Castro, que deixou mais de 100 mortos nas comunidades da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro.
Apesar de homenageado no coquetel, Boulos não poupou críticas aos que, na última semana, se uniram em torno de uma agenda alinhada ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O grupo anunciou o "Consórcio da Paz", articulação em defesa do Projeto de Lei do Terrorismo para classificar facções criminosas como organizações terroristas — pauta que vai de encontro aos interesses dos EUA e que poderia justificar uma intervenção norte-americana no Brasil.
"Alguém acha de verdade que a cabeça do narcotráfico está num barraco do Morro do Alemão, em Paraisópolis ou no Sol Nascente? Vamos ser francos, isso é história da carochinha. O comando do crime organizado, como a Operação Carbono Oculto mostrou, está envolvido com lavagem de dinheiro em fintechs e casas de apostas. Você combate isso com inteligência, não com carnificina", disse o ministro.
A criação do consórcio dois dias após a Operação Contenção expôs o uso político do medo e da violência em ano pré-eleitoral. A recusa à PEC da Segurança Pública, ao mesmo tempo em que se pede mais autonomia para agir, foi apontada como incoerência e oportunismo.
"O presidente Lula buscou dar garantias legais para que o governo federal tenha melhores condições de combater o crime organizado", reforçou Boulos, defendendo a coordenação nacional como caminho mais efetivo e responsável.
