As megatendências globais de segurança alimentar, descarbonização e transição energética reposicionam a mineração no Brasil. Do total de US$ 68,4 bilhões em investimentos previstos entre 2025 e 2029, 28,7% estão vinculados ao minério de ferro e 16,6% a projetos socioambientais. Sob o governo Lula, a transição energética voltou ao centro da política industrial, e o setor responde com escala e tecnologia, em contraste com o negacionismo climático do período Bolsonaro.

O BNDES tem estimulado a cadeia de minerais estratégicos e, em chamada pública com a Finep, recebeu 124 propostas e selecionou 56, somando R$ 45,8 bilhões para ampliar capacidade produtiva e apoiar P&DI.
Em 2024, o BNDES e a Vale criaram o Fundo de Investimento em Participações de Minerais Estratégicos, com R$ 1 bilhão para cerca de 20 empresas juniores e de médio porte focadas em cobalto, cobre, lítio e níquel (transição energética), além de fosfato e potássio (segurança alimentar). BNDESPAR e Vale subscreverão cotas entre R$ 100 milhões e R$ 250 milhões.
Segundo avaliadores do setor, a mineração vive um momento peculiar, com grandes projetos de minério de ferro e um boom de minerais críticos e ouro. "Em terras raras, há projetos de Meteoric, Aclara, Serra Verde, Brazilian Rare Earths. Em lítio, há investimentos de Sigma, CBL, Latin Resources, Atlas Lithium e outros que estão no pipeline para sair. Do ponto de vista geopolítico, há uma corrida em busca dos minerais do Brasil, que é um país neutro", completa Marchi.
No segmento greenfield, o Projeto Ferro Verde, da Brazil Iron, prevê três minas a céu aberto, ramal ferroviário de 120 quilômetros e três plantas industriais para pellet feed, pelotização e HBI no Porto Sul (BA), com hidrogênio verde. "A McKinsey projeta um déficit de 109 milhões de toneladas de ferro verde em 2031. Nossas obras começam em 2026 e a operação, em 2030. Os dez primeiros anos de produção já estão negociados com clientes da Europa e da Ásia", diz Emerson Souza, vice-presidente de relações institucionais da Brazil Iron.
A Anglo American investiu cerca de R$ 5 bilhões em uma planta de filtragem a vácuo na mina de Conceição do Mato Dentro (MG). O projeto deve evitar o lançamento de até 85% do rejeito total para a barragem do Sistema Minas-Rio e entrar em operação em 2026.
A Vale projeta que 10% de sua produção de minério de ferro venha de mineração circular. A empresa destaca o Programa Novo Carajás (PA), com R$ 70 bilhões, e uma nova fase de investimentos em Minas Gerais, de R$ 67 bilhões, ambos até 2030.
A mina Capanema (MG) foi reativada com R$ 5,2 bilhões, adicionando 15 milhões de toneladas/ano à produção de minério de ferro. Com o Novo Carajás, a produção deve atingir 200 milhões de toneladas/ano em 2030, com adicional de 20 Mt em Serra Sul. No cobre, projeta-se alta de 32%, para cerca de 350 mil toneladas. A Vale Metais Básicos iniciou a operação do segundo forno de níquel no Complexo Onça Puma, no sudeste do Pará.
A CSN Mineração investe R$ 13,2 bilhões até 2030 em logística, economia circular e no Projeto P15, que vai produzir 16,5 milhões de toneladas/ano de pellet feed na Casa de Pedra (Congonhas-MG), visando aço mais verde. "É um insumo fundamental para a descarbonização da siderurgia global. O início da operação será no quarto trimestre de 2027", diz Pedro Oliva, diretor financeiro e de relações com investidores.
Projetos brownfield também avançam. Mubadala e Trafigura licenciaram um novo projeto na Mineração Morro do Ipê (Serra Azul-MG), adquirida da MMX Sudeste. A MMI investiu R$ 1,3 bilhão para produzir 6 milhões de toneladas/ano de "minério verde" (pellet feed) de maior teor de ferro.

A Atlantic Nickel, do fundo britânico Appian Capital Advisor, terá investimentos iniciais de US$ 50 milhões na mina de níquel Santa Rita (Itagibá-BA), com recursos de um fundo de US$ 1 bilhão da Appian e da IFC. "A Appian está investindo R$ 100 milhões em um estudo de viabilidade do projeto subterrâneo da mina Santa Rita. Com a confirmação do estudo, serão investidos R$ 3 bilhões para o desenvolvimento da mina subterrânea entre 2026 e 2030", diz Milson Mundim, country manager da Appian Capital Brazil.
A Sigma Lithium investe US$ 100 milhões, com financiamento de R$ 486,8 milhões do BNDES, para construir a segunda fábrica Greentech e ampliar a transformação do minério em óxido de lítio. "A conclusão é até o final de 2026, o que dobrará nossa capacidade industrial anual de 40,000 t de LCE [lítio carbonato equivalente], cerca de 3% do mercado mundial, para 80,000 t de LCE, apenas para acompanhar o crescimento em ascensão da demanda de lítio, que atingiu 22% esse ano", diz Ana Cabral, CEO e cofundadora da Sigma.

