A escalada de pressão dos EUA contra a Venezuela ganhou força e incertezas. Avaliações apontam risco de desfecho catastrófico, enquanto a região assiste a uma guerra de nervos que se intensifica a cada dia.
Entre idas e vindas, já foram afundadas 18 embarcações e ao menos 65 pessoas morreram, todas descritas pela Casa Branca como narcoterroristas. Cerca de 20% dos navios militares americanos foram deslocados para o Caribe.
A ofensiva ocorre em meio à articulação da oposição venezuelana, agora liderada por Maria Corina Machado, que aposta em uma ação decisiva de Washington para pressionar Nicolás Maduro.
Em participação por vídeo numa conferência empresarial em Miami, da qual também tomou parte o presidente americano, Machado disse não ter dúvidas sobre a saída do líder venezuelano.
"Maduro começou esta guerra, e o presidente Trump vai terminá-la", aposta.
No primeiro mandato, Trump avalizou o então líder opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela. Respaldado pela cúpula militar, o ditador se manteve no poder, que cultiva há 12 anos, desde a morte de Hugo Chávez.
De volta à Casa Branca, Trump posicionou uma poderosa frota no Caribe sob o argumento de combate ao narcotráfico. O movimento agrada a parte de sua base Maga e exilados latinos de regimes autoritários, e tem no secretário de Estado, Marco Rubio, um de seus entusiastas.
Nos EUA, porém, uma pesquisa da YouGov indica resistência a uma escalada: apenas 30% dos entrevistados apoiam ataques contra embarcações venezuelanas e alvos terrestres, sete pontos a menos que em setembro.
Em reunião a portas fechadas com parlamentares, o secretário Rubio e o chefe do Pentágono, Pete Hegseth, asseguraram que os EUA não planejam lançar ataques dentro da Venezuela e admitiram não ter justificativa legal para isso, segundo relataram participantes à emissora "CNN internacional".
Ainda assim, o Senado, controlado pelos republicanos, rejeitou uma resolução bipartidária que exigiria aprovação do Congresso para qualquer ação militar do presidente Trump contra a Venezuela. Horas depois, Hegseth anunciou mais um ataque a um suposto barco de traficantes no Caribe.
No tabuleiro internacional, a Rússia prometeu defender a soberania da Venezuela diante da pressão americana, acenando com apoio a Caracas.
Internamente, Maduro mobilizou paramilitares, intensificou a repressão a opositores e pediu ajuda a Moscou para enfrentar a crise externa com os EUA.
Para o analista político Benigno Alarcón, o momento é um ponto de virada. Ele avalia que manter o status quo se tornou a opção menos sustentável e que a lógica do regime chavista depende da pressão externa para produzir coesão interna.
O resultado é um cenário contraditório: demonstrações de força no mar do Caribe, cautela admitida nos bastidores sobre limites legais e pouco respaldo popular nos EUA para uma invasão.
Enquanto a tensão cresce, a oposição venezuelana eleva a aposta em Washington, Maduro fecha o cerco em casa e o risco de um erro de cálculo paira sobre a região.

