O Comitê de Política Monetária do Banco Central manteve a Selic em 15% ao ano pela terceira vez seguida, no maior patamar desde julho de 2006. A decisão já era amplamente esperada pelo mercado.
No comunicado, o BC voltou a dizer que os juros devem ficar nesse nível por "período bastante prolongado" para levar a inflação à meta de 3%. Pela primeira vez, o comitê afirmou considerar que o nível atual é suficiente para atingir o objetivo.
Com isso, ganhou força a expectativa de manutenção em dezembro, com início dos cortes só em 2026, entre janeiro e março.
— O BC não quis passar nenhuma mensagem de quando começa a cortar, ou se está próximo, ainda fica muito em aberto — avaliou o superintendente de Pesquisa Econômica do Itaú Unibanco, Fernando Gonçalves.
Ele destacou a importância de saber se o BC já incluiu em suas projeções a ampliação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, aprovada ontem.
— Se não tiver sido incorporado ainda, a chance é de ter que revisar para cima as projeções de inflação, o que aumenta a chance de postergação (do corte de juros) para março ou até mesmo abril.
Antes da decisão, o Ibovespa subiu 1,72% e marcou 153.294 pontos, renovando máximas pelo oitavo pregão. O dólar comercial caiu 0,7%, a R$ 5,36.
Para Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, o anúncio ficou alinhado ao cenário-base da corretora, que prevê a Selic começando a cair em março de 2026 e encerrando o ano ainda em dois dígitos, em 12%.
— A política fiscal expansionista e as incertezas globais podem exercer pressões sobre a demanda doméstica, o déficit em conta corrente e a inflação ao longo de 2026, o que tende a limitar o espaço para o ciclo de corte de juros no próximo ano — afirmou o economista-chefe da XP.
Alberto Ramos, do Goldman Sachs, avaliou que "o Copom não está baixando a guarda no combate à inflação" e evitou otimismo exagerado, apesar da queda nas projeções do próprio BC para o IPCA.
Ele observou que o mercado de trabalho segue "dinâmico", o que, na visão dele, ainda não garante uma trajetória de queda da inflação.
Para Denis Ferrari, da Kinea Investimentos, o Copom adotou postura conservadora e ficou a dúvida se as projeções já incluem o efeito da isenção do IR aprovada ontem pelo Congresso, que passa a valer em 2026 e pode injetar bilhões no consumo.
—Descobriremos na ata — disse, sobre o documento que sai na semana seguinte à reunião.
Mesmo assim, Ferrari avaliou que o comunicado "fechou totalmente a porta para corte (dos juros) em janeiro".
Frederico Catalan, gestor de juros do Opportunity, concordou e classificou o comunicado como "neutro".
— Faz algum reconhecimento sobre melhora na inflação, mas ao mesmo tempo mantém o "bastante prolongado". A manutenção dessa linguagem me parece pouco compatível com início do ciclo (de queda) em janeiro.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, viu "pouca mudança" no tom em relação a setembro, mas percebeu "maior confiança na atual estratégia, mas mantendo o tom duro”. Para ela, o BC segue atento aos gastos públicos e seus efeitos.
— O risco permanece sendo o impacto da expansão fiscal para o próximo ano, principalmente o reaquecimento da demanda doméstica com o aumento da isenção de IR a partir de janeiro, além de novas iniciativas de gastos fiscais devido ao ano eleitoral.
Brendan McKenna, estrategista de câmbio do Wells Fargo, disse que o comunicado "é bastante consistente com um Banco Central extremamente cauteloso e não disposto a afrouxar a política monetária enquanto persistirem os riscos externos”.
O banco americano ainda projeta corte de 0,25 ponto em janeiro, mas, segundo o analista, "os riscos estão cada vez mais inclinados para um início mais tardio do ciclo de flexibilização".
Já Arnaldo Lima, da Polo Capital, enxergou mais chances de cortes em janeiro, com redução inicial de 0,25 ponto e Selic em 12% no fim de 2026.
— Parece que estão mais confiantes de que a taxa de juros afetou a economia, conforme o esperado — afirmou, destacando o fortalecimento da autonomia do BC. — Parece que o CNPJ fala mais alto do que o CPF dos diretores. Estamos colhendo os frutos da diretoria com pouco tempo (de autonomia, iniciada em 2021).
Para Marco Caruso, chefe de Política Monetária e Mercados do Santander, um início de cortes em dezembro saiu da mesa. Para quem já projetava cortes a partir de janeiro ou março, o cenário segue igual.
— Porém, para quem trabalhava com cortes apenas após abril, o reconhecimento de avanços na desinflação e o recuo da projeção do IPCA no cenário de referência podem antecipar essa discussão.— afirmou.
Analistas concordam que o BC demonstrou mais convicção em manter a política contracionista. Houve sinal de confiança maior nos resultados da estratégia, sem abrir brecha para discutir queda já.
A posição rígida ampliou as cobranças no governo por redução. Lula, que nomeou Gabriel Galípolo para a presidência do BC, afirmou recentemente que o Copom "vai precisar começar a baixar os juros". O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que, se fosse diretor do BC, "votava pela queda".
Ainda acima da meta, as estimativas de inflação sustentam a manutenção. Para o horizonte relevante (segundo trimestre de 2027), a projeção é de 3,3%. Para o fim deste ano, caiu de 4,8% para 4,6%, ainda acima do teto de 4,5%.
O Copom citou expectativas desancoradas, atividade resiliente e pressões no mercado de trabalho, que "ainda mostra dinamismo". Reconheceu "algum arrefecimento" da inflação cheia e das medidas subjacentes nas leituras mais recentes, bem como "trajetória de moderação no crescimento da atividade econômica".
No externo, o BC avaliou que o ambiente "ainda se mantém incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos", o que "exige particular cautela por parte de países emergentes".
