Um grupo de juristas de esquerda articula uma carta aberta ao presidente Lula após a operação no Rio de Janeiro que se tornou a mais letal da história, com 121 mortes. A minuta pede a criação de uma secretaria diretamente ligada à Presidência para liderar as ações diante da crise de segurança pública fluminense.
"O limite a que chegamos recomenda que V. Exa. assuma pessoal e diretamente, por meio de uma Secretaria Especial da Presidência da República – dirigida por um Secretário de Estado com prerrogativas ministeriais e estreitamente ligado à sua liderança e direção", diz o texto. A carta aponta que o objetivo da secretaria "seria coordenar, com a sua autoridade, todas as instâncias de polícia, de inteligência, de informações e de caráter operacional da União, para debelar a crise do Rio de forma conjugada com o governo estadual e também iniciar a formatação institucional do Ministério da Segurança Pública no país, proposta que está contida no seu programa de governo".
O documento também traz duras críticas ao modo como a operação no Rio foi conduzida pelo governo estadual, classificada como "mal preparada e mal explicada", além de "inadequada para enfrentar as facções criminosas". O texto está em fase de coleta de assinaturas.
Integrantes do governo Lula já tiveram acesso à minuta e criticaram a iniciativa. Eles avaliam que o momento para pressionar o presidente é o "pior possível", já que as pesquisas mostram que a ação policial no Rio teve amplo apoio popular. A avaliação é que a carta tem grande potencial de fortalecer o discurso da direita, com ataques ao governo federal na área de segurança pública.
Para membros do governo, é preciso aguardar os resultados das perícias que serão analisadas pelo Ministério Público e pelo Supremo Tribunal Federal (STF), para que se tenha conclusões efetivas sobre a lisura e abusos da operação.
Outro ponto de irritação foi a sugestão de criar uma secretaria diretamente ligada a Lula. Para integrantes da Esplanada, a medida joga o problema da segurança pública no colo do presidente, como quer a oposição. Uma autoridade que atuou nesse segmento em governos anteriores classificou a proposta como "colocar veneno diretamente na veia de Lula".
