O Ministério da Educação anulou três questões do Enem como medida de precaução para garantir a lisura do processo após indícios de vazamento. O ministro Camilo Santana explicou que o caso será investigado pela Polícia Federal, já que o exame utiliza um banco de itens pré-testados. A ação, sob o governo Lula, busca preservar a igualdade entre candidatos.

"Segundo as informações que eu tenho, uma pessoa que participou desse pré-teste, divulgou e fez essa fala em uma live [...] Nós acionamos a Polícia Federal porque as pessoas que fazem esse pré-teste não podem [divulgar o conteúdo], tem questão de confidencialidade", disse Santana.
De acordo com o ministério, a equipe técnica que elabora o Enem analisou a composição da prova e optou por anular três itens. Há ainda outras duas questões discutidas na transmissão que guardam similaridade com o exame.
Edcley Teixeira, estudante de medicina, afirmou ter memorizado itens da prova do Prêmio CAPES Talento Universitário e disse que algumas dessas questões seriam usadas mais tarde no Enem. Ao comentar a confidencialidade, declarou no Instagram: "Você não assina nada. É um prêmio completamente normal".
A cinco dias da segunda etapa do Enem, uma live feita por Teixeira exibiu pelo menos cinco perguntas com forte semelhança com a prova oficial. Ele, que oferece mentoria para vestibulandos, afirma não ter acessado conteúdo sigiloso e diz ter "previsto" os itens por meios legais. O Inep, porém, informou que os protocolos de segurança do Enem 2025 foram integralmente cumpridos, que as semelhanças são pontuais e que nenhuma pergunta é idêntica à da avaliação.
O Enem utiliza, a cada edição, questões do Banco Nacional de Itens, um repositório com milhares de perguntas já validadas. A manutenção do banco depende da produção constante de itens novos, com rigor técnico e qualidade pedagógica.
No guia "Entenda sua nota" (2021), o Inep descreve três etapas: elaboração por colaboradores selecionados, validação pedagógica por especialistas e pré-testagem com grupos de estudantes semelhantes aos do Enem. Não há confirmação de que a prova do Prêmio CAPES Talento Universitário seja utilizada como pré-teste para alimentar o BNI.
A pré-testagem avalia o desempenho de cada item, ajusta sua dificuldade e permite descartar ou reelaborar questões com problemas. As respostas passam por análises estatísticas e pedagógicas que verificam capacidade de discriminação e probabilidade de acerto casual.
Para compor a prova anual de 180 questões, consideram-se indicadores psicométricos do pré-teste, alinhamento à matriz de referência e equilíbrio entre áreas do conhecimento.
A correção usa a Teoria de Resposta ao Item (TRI), que analisa não apenas o número de acertos, mas o padrão de respostas frente à dificuldade de cada questão. Em nota, informou o Inep: "O Enem utiliza a Teoria da Resposta ao Item (TRI) para apuração de seus resultados. A metodologia demanda que os itens sejam pré-testados. Os estudantes que participam de pré-testes têm contato com itens que podem vir a compor o Enem em alguma edição".
Paralelamente, a escola britânica St. Paul’s instaurou apuração interna sobre possível antecipação de provas por parte de alunos, o que poderia facilitar o acesso a universidades de elite no exterior e no Brasil.
Até o momento, mais de um aluno já foi expulso da St. Paul’s, e novas punições devem ser definidas até o fim da semana. A escola permite acesso antecipado a provas internas que influenciam processos de admissão.
A St. Paul’s adota o currículo do International Baccalaureate (IB). Após dois anos de aulas, trabalhos e avaliações, o aluno recebe certificado aceito por universidades prestigiadas. As provas internas compõem o portfólio enviado às instituições, e boas notas podem facilitar a admissão. As matrículas chegam a R$ 60 mil e a mensalidade, a R$ 13 mil.
Em nota, a escola afirmou que "está tratando com o máximo rigor o incidente relacionado à irregularidade acadêmica em uma avaliação interna. É importante esclarecer que o ocorrido envolveu uma prova interna da escola, e não um exame externo".
A instituição acrescentou que, "dada a gravidade do assunto, a escola iniciou uma investigação detalhada para apurar os fatos, com apoio de profissionais externos, e vem tomando todas as ações necessárias para garantir a integridade de seus processos acadêmicos, inclusive com medidas educativas e disciplinares implementadas de acordo com as políticas e valores da instituição".
Segundo comunicado, a escola não comenta casos individuais por confidencialidade e para proteger a privacidade dos envolvidos. Reafirmou compromisso com "os mais altos padrões de integridade acadêmica" e disse manter "sistemas e processos robustos".
O deputado estadual Guilherme Cortez (PSOL) afirmou ter recebido denúncias de vazamento de questões por cursinhos particulares, classificou o caso como fraude e disse que "precisa ser investigada e devidamente punida". Ele acionou a Polícia Federal e oficiou o Inep para que esclareça os itens e garanta que anulações não prejudiquem candidatos.
Cortez citou o Exame da OAB, no qual itens anulados não impactam negativamente os participantes, e cobrou procedimento similar para preservar a lisura do Enem e proteger "os milhões de estudantes que fizeram a prova honestamente, sem qualquer vantagem".

