Santa Catarina, com 5,5 milhões de eleitores e cada vez mais inclinada à direita, virou palco de uma crise aberta após o desejo de Jair Bolsonaro de lançar o filho Carlos ao Senado. Por ironia, a aposta do ex-presidente mergulhou antigos aliados em conflito num estado onde, nas últimas presidenciais, sete em cada dez eleitores escolheram Bolsonaro e que elegeu Jorginho Mello (PL) ao governo com 71% dos votos, além de Jorge Seif (PL) ao Senado. A movimentação do forasteiro colocou lenha na disputa e acendeu o alerta entre caciques locais.
O nó é simples e explosivo: Jorginho Mello e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, haviam alinhado que uma vaga na chapa ao Congresso seria do PL e a outra do senador Esperidião Amin (PP), que busca a reeleição. A postulante do PL seria a deputada federal Caroline De Toni, aliada de longa data do bolsonarismo. Para abrir espaço a Carlos, Caroline passou a ser descartada por Jorginho e Valdemar, que pretendem manter o acordo com o PP e Amin. Descontente, o clã Bolsonaro passou a defender a dobradinha Carlos-Caroline — a "Car-Car" — hipótese em que Amin ficaria de fora.
Desde então, a confusão só cresceu. "Neocatarinense", o fluminense Carlos intensificou as andanças pelo estado, quase sempre ao lado de Caroline. "Como conversamos desde o início e temos repetido de forma quase que diária e é de conhecimento de todos, os pré-candidatos de Jair Bolsonaro ao Senado Federal são Carol e Carlos Bolsonaro", postou o Zero Dois na segunda 3.
A resistência à "chapa pura" do PL mobiliza o entorno de Jorginho. Candidato à reeleição, o governador precisa preservar sua base na Assembleia, pulverizada por quase uma dezena de siglas, entre elas o PP. Mais: ele corre para consolidar o maior número de apoios, sob risco de vê-los migrarem para uma candidatura conservadora rival, a do prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD), nome competitivo em pesquisas.
Com o impasse, Caroline ameaçou deixar o PL e ir para o Novo. A temperatura subiu ainda mais após a ofensiva da deputada estadual Ana Campagnolo, a mais votada em 2022 e liderança do PL catarinense, apoiada por muitos prefeitos. Para ela, a imposição de Carlos tiraria do PL a deputada federal mais votada do estado. "O ex-presidente, em nome da sobrevivência de sua família na política, impõe ao estado mais ideológico do Brasil a aceitação passiva de uma pré-derrota ao desprestigiar De Toni para dar lugar ao seu filho", disse.
A reação do clã veio imediata. "Vou ser direto: as declarações são totalmente inaceitáveis. Na forma, por terem sido feitas em público. No conteúdo, por se insurgirem contra a liderança política que a projetou", disse o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-RJ). "Carlos chega como uma indicação direta de Jair Bolsonaro, o que merece total consideração, confiança e lealdade de todos. Sim, sem questionamentos ao nosso maior líder", ecoou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Michelle Bolsonaro afirmou que apoiará Caroline mesmo que ela deixe o PL: "Estou fechada com Carol De Toni, independentemente da sigla partidária". Já Jair Renan, vereador em Balneário Camboriú e provável candidato a deputado federal por Santa Catarina, divulgou vídeos de Carlos e Caroline juntos: "Essas são as minhas escolhas".
O esforço de Jair Bolsonaro para eleger Carlos mira uma maioria de direita no Senado e, ao mesmo tempo, fortalecer a família em um momento politicamente delicado. O plano de colocar Michelle, Carlos, Flávio e Eduardo na Casa Alta ficou mais difícil: Eduardo, antes favorito por São Paulo, hoje está praticamente fora do páreo; Flávio lidera no Rio, mas terá disputa dura; Michelle aparece com perspectiva mais tranquila no Distrito Federal. Carlos, vereador há sete mandatos no Rio, testa sua força eleitoral fora de casa. Pode até se eleger, mas não será em silêncio.

