A inflação anualizada no Brasil deve cair de 5,17% em setembro para patamar inferior a 4,80% em outubro, aumentando a chance de o índice voltar ao intervalo da meta já em 2025.
O IBGE divulgará na 3ª feira (11.nov.2025) o IPCA. Projeções apontam taxa mensal entre 0,10% e 0,21%, com mediana de 0,16%. Para 12 meses, a faixa esperada vai de 4,69% a 4,81%.
A perda de fôlego reforça a possibilidade de a inflação entrar no intervalo da meta antes do previsto pelo Banco Central, que em junho projetou esse retorno só no 1º trimestre de 2026.
Apesar do alívio, o Copom manteve a Selic em 15% ao ano e sinalizou que ela ficará nesse nível por "período bastante prolongado".
No Focus, as expectativas para 2025 seguem próximas do teto da meta. A mediana é de 4,55%, enquanto o objetivo é de 3% com tolerância até 4,50%.
Alimentação e Bebidas têm ajudado a segurar os preços, com deflação nos últimos quatro meses das estatísticas do IBGE.
Analistas citam ainda a queda na conta de luz, com mudança da bandeira tarifária de vermelha patamar 2 para vermelha 1, e a deflação de alimentos, em especial carnes e in natura.
"No núcleo da inflação, a expectativa é de continuidade da desaceleração dos serviços subjacentes, cujas variações mensais têm mostrado comportamento mais benigno nos últimos meses", declarou Leonardo Costa, economista do ASA.
Para Gabriel Pestana, economista sênior da Genial Investimentos, as pressões do setor de serviços estão perdendo força.
"Está confirmando uma tendência de desaceleração mais clara. Com esses 2 componentes agindo juntos, bem possível que se chegue nos 4,5% neste ano", disse o economista.
Ainda assim, os serviços seguem mais pressionados pelo mercado de trabalho aquecido, mesmo com juros altos.
Para 2026, projeta-se expansão de programas sociais. Há estimativa de gasto anual de R$ 441 bilhões com ações do "welfare State", além do aumento da faixa de isenção do IRPF para quem ganha até R$ 5.000, o que tende a estimular o consumo.
A mediana para a inflação de 2026 está em 4,20%. A Genial Investimentos avalia 5,00%, citando impacto das medidas fiscais.
Pestana exemplifica que a isenção do IR pode adicionar até 0,25 ponto percentual ao IPCA de 2026.
"É como se fosse uma transferência de renda. A pessoa não está pagando imposto e está sobrando mais salário. […] Fazendo uma conta como se fosse uma transferência e contando com o custo de R$ 34 bilhões por ano, o impacto inflacionário será de 15 a 20 basis point (pontos-base) da inflação", declarou.
Ele lembra que a isenção é só parte dos impulsos fiscais previstos para 2026: reajuste do salário mínimo, pagamento de precatórios e reforço de programas como o Bolsa Família.
"O que não falta é fator de risco altista vindo da demanda especialmente de parte do impulso fiscal", afirmou Pestana.
Na XP, a avaliação é que a dinâmica da inflação vem melhor do que o esperado, mas com riscos à frente: "O balanço de riscos no médio prazo vem se deteriorando em função de medidas fiscais expansionistas. Mantemos a projeção da taxa Selic em 12%, após 6 cortes consecutivos de 0,5 p.p. a partir de março".
O relatório também aponta desaceleração mais clara da atividade, beneficiando a inflação junto da valorização do real, do recuo da gasolina e de condições climáticas favoráveis à produção de alimentos.
Em julho, o BC afirmou que o IPCA voltaria a ficar abaixo de 4,5% no 1º trimestre de 2026. Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse acreditar que o índice pode ficar no patamar permitido ainda em dezembro deste ano.
O CMN é o órgão responsável por fixar a meta de inflação.
O governo Luiz Inácio Lula da Silva tem defendido juros menores para destravar investimentos e aliviar o custo de vida. Haddad afirmou que votaria por reduzir a Selic se fosse diretor do Banco Central e classificou juros reais perto de 10% como insustentáveis.
O ministro criticou também a "teimosia" de agentes financeiros nas projeções e disse haver "gente torcendo contra esse país", o que dificulta a queda das expectativas usadas pelo BC.
A ministra Gleisi Hoffmann chamou a decisão do Copom de "prejudicial" aos investimentos produtivos. O vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, disse esperar corte na próxima reunião, em dezembro.
Pestana avalia que a diretoria do BC busca credibilidade ao adotar decisões duras contra a inflação.
Ele pondera, porém, que os diretores serão "colocados contra a parede" nas próximas reuniões e que o "pior dos mundos" seria ceder e cortar a Selic antes da hora.
"É agora que a gente vai testar mesmo essa diretoria, quando começar essa pressão, quando a gente vir que está vindo pressão do Banco Central e ele sustentar, não fazer o que estão pedindo. Vai mostrar que eles estão ali para manter a inflação sob controle", disse Pestana.

