O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu a COP30 com um recado direto aos líderes que desdenham a crise climática. Sem citar nomes, lamentou a ausência de Donald Trump, Xi Jinping e Vladimir Putin, destacou que Estados Unidos, China e Rússia gastam mais com o complexo industrial-militar do que com o clima e reafirmou a liderança do Brasil na agenda ambiental.

"Parabéns por darem a todos nós essa lição de civilidade. Essa lição, eu diria, de grandeza humana", ironizou Lula, para arrematar: "Provando que se os homens que fazem guerra estivessem nesta COP, eles iriam perceber que é muito mais barato colocar US$ 1,3 trilhão, para a gente acabar com o problema climático, do que colocar US$ 2,7 trilhões para fazer guerra, como fizeram no ano passado".
Levantamento do Stockholm International Peace Research Institute (Sipri), referente a 2024, mostra que os EUA investiram US$ 997 bilhões em gastos militares; a China, US$ 314 bilhões; e a Rússia, US$ 149 bilhões. Na avaliação apresentada, esses valores contrastam com o que seria necessário para mitigar os efeitos da emergência climática.
Lula advertiu que "na era da desinformação, os obscurantistas rejeitam não só as evidências da ciência, mas, também, os progressos do multilateralismo. Eles controlam algoritmos, semeiam ódio, espalham medo, atacam as instituições, a ciência e as universidades. É momento de impor uma nova derrota aos negacionistas. Sem o Acordo de Paris, o mundo estaria fadado ao aquecimento catastrófico de quase cinco graus até o fim do século. Estamos andando na direção certa, mas na velocidade errada. No ritmo atual, ainda avançamos rumo a um aumento superior a um grau e meio na temperatura global. Romper essa barreira é um risco que não podemos correr".
Ao reforçar a urgência de cumprir o Acordo de Paris, o presidente citou desastres recentes. "A mudança do clima não é uma ameaça do futuro. É uma tragédia do presente. O furacão Melissa, que fustigou o Caribe, e o tornado que atingiu o Paraná deixaram vítimas e um rastro de destruição. O aumento da temperatura global espalha dor e sofrimento, especialmente entre as populações mais vulneráveis", ressaltou.
Ele também lembrou o desafio de organizar a COP30 em Belém, destacando a opção por levar o evento ao coração da Amazônia. "Seria mais fácil ter feito a COP numa cidade acabada, que não tivesse problema. Resolvemos aceitar o desafio de fazer a COP em um estado da Amazônia para provar que, quando se tem disposição política, vontade e compromisso com a verdade, a gente prova que não tem nada impossível para o homem", disse.
O presidente da conferência, embaixador André Corrêa do Lago, reforçou o senso de urgência no combate à crise climática. "O que mudou imensamente sobre esse processo é a questão da urgência. Esse é o elemento adicional, que está tão presente e somos lembrados, com grande tristeza. Temos uma responsabilidade imensa", cobrou.
Segundo ele, o multilateralismo segue como caminho para resultados concretos e vem sendo confrontado por governos de direita. "A ciência, a educação e a cultura são o caminho que devemos seguir. Para o combate à mudança do clima, o multilateralismo é definitivamente o caminho", observou.
Como exemplos de acordos bem-sucedidos, Corrêa do Lago citou o Protocolo de Montreal, de 1987, que baniu substâncias que destroem a camada de ozônio — em recuperação e com fechamento esperado entre 2040 e 2050 —, e o Acordo de Paris. Até 21 de novembro, as delegações discutirão medidas de mitigação e adaptação.

