Lula endurece: "COP30 será a COP da verdade" e fim da dependência de fósseis
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📅 07/11/2025

Lula endurece: "COP30 será a COP da verdade" e fim da dependência de fósseis

Em Belém, o presidente defendeu reverter o desmatamento e superar os combustíveis fósseis, criticou "interesses egoístas" e cobrou ação global enquanto os EUA se ausentam.

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Ronny Teles

Ronny Teles

Combatente pela democracia

Dias após afirmar que o Brasil não pode renunciar aos combustíveis fósseis do dia para a noite, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a superação dessa dependência. Diante de chefes de Estado e de governo, ele criticou "interesses egoístas" que se sobrepõem ao bem comum de longo prazo e disse ser preciso levar a ciência "a sério".

"Estou convencido de que, apesar das nossas dificuldades e contradições, precisamos de mapas do caminho para, de forma justa e planejada, reverter o desmatamento, superar a dependência dos combustíveis fósseis e mobilizar os recursos necessários para esses objetivos", afirmou.

A fala ocorreu na abertura da Sessão Plenária da Cúpula do Clima, em Belém, que começou na quinta-feira (6) e segue até esta sexta (7). O posicionamento veio dias após o Ibama conceder licença à Petrobras para perfurar um poço na bacia da foz do Amazonas (AP), na Margem Equatorial. Mesmo assim, Lula disse que "é hora de encarar a realidade e decidir se teremos ou não a coragem e a determinação necessárias para transformá-la".

Assessores do Planalto negam contradição: para eles, defender o fim da dependência de fósseis não impede aceitar a exploração na Margem Equatorial, embasada em estudos técnicos.

No discurso, Lula apontou dois descompassos globais. O primeiro é a desconexão entre salões diplomáticos e o mundo real. "As pessoas podem não entender o que são emissões ou toneladas métricas de carbono, mas sentem a poluição", disse. O segundo é o "descasamento" entre o contexto geopolítico e a urgência climática.

Segundo o presidente, rivalidades e conflitos drenam recursos que deveriam enfrentar o aquecimento global, enquanto a "janela de oportunidade" se fecha rapidamente. "Em cenário de insegurança e desconfiança mútua, interesses egoístas e imediatos preponderam sobre bem comum. A COP30 será a COP da verdade. É momento de levar a sério os alertas da ciência", afirmou.

Sem citar nomes, Lula disse que "forças extremistas fabricam inverdades para obter ganhos eleitorais e aprisionar gerações futuras" e definiu 2025 como "marco para o multilateralismo". "Rivalidades estratégicas e conflitos armados desviam atenção e recursos que deveriam ser canalizados no combate ao aquecimento global", reforçou, pedindo união para financiar a transição energética.

O discurso veio em meio à ausência dos Estados Unidos na cúpula de líderes. Na semana passada, havia expectativa de participação de representantes do governo Donald Trump, mas a Casa Branca confirmou que não enviaria integrantes do alto escalão.

A ausência ocorre meses após Trump anunciar a saída do Acordo de Paris — repetindo o que fez em seu primeiro mandato. Em um ano que marca uma década do tratado, Lula ressaltou o protagonismo de cada país nas NDCs (metas climáticas).

"Passada uma década, ele [Acordo de Paris] se tornou o espelho das maiores qualidades e limitações da ação multilateral. Graças ao acordo, nos afastamos dos prognósticos que anteviam aumento de até cinco graus na temperatura média global até o final do século. Provamos que a mobilização coletiva gera resultados. Mas o regime climático não está imune à lógica de soma zero que tem prevalecido na ordem internacional", alertou.

No âmbito da COP de Belém, Lula disse que os debates da cúpula de líderes serão a "bússola da jornada a ser percorrida nas próximas semanas" e que a cidade honrará os legados das COP28 e COP29. Defendeu colocar o combate às mudanças do clima no centro das decisões de governos e empresas.

Ele pediu que as nações enfrentem desigualdades internas e entre países, apontando que a crise climática decorre de dinâmicas que, por séculos, fraturaram as sociedades. "Será impossível contê-la sem superar as desigualdades dentro das nações e entre elas."

Lula afirmou ainda que a justiça climática é aliada do "combate à fome e à pobreza, da luta contra o racismo, da igualdade de gênero e da promoção de uma governança global mais representativa e inclusiva".

Ao encerrar, disse que a Amazônia, para o mundo, "é como se fosse uma bíblia". "Todo mundo sabe que existe, mas interpreta da sua forma", afirmou. E concluiu: "Temos que abraçar um novo modelo de desenvolvimento mais justo, resiliente e de baixo carbono. Espero que esta cúpula contribua para ampliar nossa visão para além do que enxergamos hoje".

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Publicado em 7 de novembro de 2025 às 12:59

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