Sem citar diretamente os Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou neste domingo (9) a intervenção militar em países da América Latina e do Caribe e afirmou que manobras retóricas antigas são usadas para justificar ações "ilegais".

As declarações foram dadas durante participação na 4ª Cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia, em Santa Marta, na Colômbia.
O panorama regional inclui trocas de ameaças entre Estados Unidos e Venezuela após ataques militares norte-americanos a embarcações no Caribe, que Washington diz fazer parte do combate ao narcotráfico e que levaram ao deslocamento de grande efetivo militar.
Em meio às tensões, Trump já afirmou que o regime de Nicolás Maduro está "com os dias contados" e não descartou ações terrestres.
O governo de Maduro, por sua vez, acusa os EUA de agir para desestabilizar o regime, inclusive com participação da CIA, e diz que Trump estaria "fabricando" uma nova guerra.
Em entrevista a agências internacionais nesta semana, Lula lembrou que discutiu o tema com o ex-presidente Donald Trump e fez um apelo pela preservação da paz regional.
"Tive a oportunidade de conversar com Trump sobre esse assunto, dizendo que a América Latina é uma zona de paz. Aqui não proliferaram armas nucleares. No caso do Brasil, é constitucional, e eu tenho orgulho de ter votado para que não houvesse proliferação de armas atômicas e nucleares no país", disse.
Ao lado da defesa da paz, Lula quer acelerar o entendimento comercial entre Mercosul e União Europeia na próxima cúpula do bloco sul-americano, em dezembro, como resposta ao unilateralismo.
"Na próxima Cúpula do MERCOSUL, em dezembro, espero que os dois blocos possam finalmente dizer sim para o comércio internacional baseado em regras como resposta ao unilateralismo", afirmou na IV Cúpula CELAC-UE.
Segundo o presidente, o instrumento possibilitará a formação de um mercado de 718 milhões de pessoas e Produto Interno Bruto de 22 trilhões de dólares.
No combate ao crime, Lula defendeu integração entre os países, com ações coordenadas, intercâmbio de informações e operações conjuntas.
"Nenhum país pode enfrentar esse desafio isoladamente. Ações coordenadas, intercâmbio de informações e operações conjuntas são fundamentais para que a gente consiga vencer", destacou.
Ele afirmou ainda que é preciso atacar o financeiro das organizações criminosas e cortar o fluxo de armas.
"É preciso reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas. O alcance transnacional do crime coloca à prova nossa capacidade de cooperação", defendeu.
Sem mencionar países, o presidente alertou que a intolerância tem ganhado força e "impedido que diferentes pontos de vista se sentem à mesma mesa".
"Voltamos a conviver com as ameaças do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado", disse. Para ele, "projetos pessoais de apego ao poder solapam a democracia" e "Estamos deixando de cultivar nossa vocação de cooperação e permitindo que conflitos e disputas ideológicas se imponham".
Ao tratar da COP 30, Lula afirmou que o evento é oportunidade para a América Latina e o Caribe mostrarem que conservar florestas é cuidar do futuro do planeta.
"A transição energética é inevitável. Nossa região é fonte segura e confiável de energia limpa e pode acelerar a redução da dependência dos combustíveis fósseis", completou.

