A atuação política de Michelle Bolsonaro tem provocado tensões crescentes no PL e entre aliados do bolsonarismo. Dirigentes e parlamentares próximos à família afirmam que a ex-primeira-dama trabalha para construir um projeto de poder próprio, em choque com interesses dos filhos de Jair Bolsonaro e de setores do partido.

Relatos nos bastidores apontam que Michelle prioriza a montagem de um grupo de candidatas alinhadas a ela — mulheres de perfil conservador e lealdade irrestrita — descritas por um deputado do PL como "feministas de direita". A estratégia miraria a formação de um núcleo de influência "michelista" dentro da sigla, especialmente no Senado.
A disputa interna ganhou força após a ex-primeira-dama derrubar a articulação do PL no Ceará que previa aliança com Ciro Gomes. A decisão contrariou os planos de Flávio Bolsonaro, que havia criticado Michelle publicamente, mas recuou e pediu desculpas depois de consultar o pai, preso desde novembro.
No Ceará, o racha ficou explícito na disputa por uma candidatura ao Senado. Michelle apoia a vereadora Priscila Costa (PL), evangélica e ligada a pautas conservadoras. Já o presidente estadual do PL, André Fernandes, quer lançar o pai, Alcides Fernandes, em uma chapa com Ciro Gomes para o governo e Eduardo Girão (Novo) para a segunda vaga ao Senado.
Ao condenar publicamente a aproximação com Ciro — "Isso não dá", afirmou — Michelle irritou os enteados Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro, que a acusaram de agir de forma autoritária.
Outro foco de atrito é Santa Catarina. Michelle apoia a deputada Caroline de Toni (PL-SC) como candidata ao Senado, mas a vaga do PL no estado foi reservada a Carlos Bolsonaro, que transferiu seu domicílio eleitoral para disputar pelo estado, seguindo orientação do pai. A segunda vaga da coligação ficaria com o senador Esperidião Amin (PP-SC).
A presidente do PL Mulher local, Ana Campagnolo, aliada de Michelle, saiu em defesa de Caroline e afirmou que a deputada estava sendo preterida porque o espaço havia sido "dado" a Carlos. A reação foi imediata: Carlos chamou Campagnolo de mentirosa, e Eduardo Bolsonaro disse que ela estava se insurgindo contra Jair Bolsonaro, "a liderança maior".
No DF, a ex-primeira-dama apoia a candidatura de Bia Kicis (PL-DF) ao Senado. O movimento contraria aliados tradicionais da família, como o governador Ibaneis Rocha (MDB), que também negocia apoio para a vaga.

