Vila vira território fantasma no CE após expulsão por facções
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📅 04/11/2025

Vila vira território fantasma no CE após expulsão por facções

Cerca de 30 famílias foram forçadas a deixar a comunidade Jacarezal, em Pacatuba (CE), após disputa violenta entre facções. Um morador foi assassinado e a área permanece vazia, enquanto órgãos de segurança dizem atuar no caso.

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Ronny Teles

Ronny Teles

Combatente pela democracia

Uma pequena vila de casas na comunidade Jacarezal, em Pacatuba, na Região Metropolitana de Fortaleza, virou um "território fantasma" após a expulsão de cerca de 30 famílias por facções criminosas.

As residências ficaram trancadas, muitas ainda com móveis dentro. Em muros, pinturas tentam cobrir as marcas de pichações das facções, ainda visíveis.

A área foi disputada pelo Comando Vermelho (CV) e pelo Terceiro Comando Puro (TCP), que "herdou" o controle do local do Guardiões do Estado (GDE), grupo cearense. O resultado foi abandono e medo.

A expulsão ocorreu em setembro, depois de uma escalada de conflitos. O CV tomou o controle da região antes dominada pela GDE. Em reação, a GDE se aliou ao TCP, e os confrontos se intensificaram.

Moradores relataram tiroteios, ações policiais e o assassinato de um homem que teria desobedecido à ordem para deixar a casa. Três dias depois, a vila estava vazia.

Pessoas que vivem nas proximidades falam em ameaças constantes e restrições para circular. A falta de segurança é criticada, e há queixas de abandono por parte das autoridades.

Imagens de 2024 do Google Street View mostram o Jacarezal com moradores e comércios abertos, como barbearia e igreja. Hoje, portas trancadas, animais soltos e calçadas tomadas de poeira dominam a cena.

A comunidade era considerada área da GDE e tinha ponto de venda de drogas. Em 9 de setembro, já em disputa com o CV, surgiram pichações do símbolo do CV em casas do Jacarezal.

Em 15 de setembro, houve queima de fogos para comemorar vitórias do CV em territórios de Fortaleza, como o Lagamar. No dia 16, GDE e TCP anunciaram fusão no Ceará, com novas comemorações.

No mesmo dia, pichações da GDE no Jacarezal foram cobertas pelas do TCP. Tiros esporádicos foram relatados nos dias seguintes, inclusive de dia, além de operações com helicópteros.

Na madrugada de 22 de setembro, um homem foi morto dentro de casa, supostamente por desobedecer à ordem da facção para sair. A comunidade esvaziou na sequência.

Moradores dizem que entrar na "vila-fantasma" passou a ser proibido pela polícia. Alguns expulsos tentaram voltar para buscar móveis, sem sucesso, e foram acolhidos por familiares.

Durante visita pela manhã, não houve presença da Polícia Militar para monitorar a área; moradores afirmam que à noite há uma espécie de vigília.

A vila, cercada por matagal e um rio, tem uma casa com placa de "Vende-se". Ao lado, uma pichação com "GDE" aparece coberta por tinta branca.

Especialistas apontam que a localização ao lado da CE-060, via que conecta várias cidades, torna o Jacarezal estratégico para o crime, por concentrar fluxo de mercadorias e dinheiro.

Segundo o pesquisador Artur Pires, da Uece e do LEV/UFC, a ocupação não é aleatória. Em mudanças de domínio, facções fazem uma "limpeza" para afastar possíveis aliados dos rivais.

O especialista destaca que o problema atinge moradores sem envolvimento com o crime, que sofrem ameaças e violências. "Entram num processo de contaminação simbólica por serem parentes, amigos, conhecidos", diz Artur.

Expulsões em massa não são novidade no Ceará. Desde 2015, bairros da capital e do interior registram casos recorrentes.

Dados divulgados em 2018 pela Defensoria Pública indicavam ao menos 133 famílias afetadas até então. Os números mais recentes são sigilosos.

Casos recentes incluem pichações em condomínio no José de Alencar, em Fortaleza, com nomes de quem deveria ir embora, e famílias expulsas no conjunto Prefeito José Walter.

A Polícia Militar afirma ter reforçado o policiamento no Conjunto Jereissati III, onde fica a vila. A Polícia Civil investiga ameaças via Draco; ninguém foi preso até agora.

O Ministério Público acompanha a situação desde setembro por meio do Gaeco e mantém o Núcleo de Acolhimento às Vítimas de Violência à disposição.

A Prefeitura de Pacatuba diz que não foi procurada formalmente por moradores expulsos. Afirma adotar medidas como melhoria da iluminação pública e estudos para videomonitoramento.

A Avenida Senador Carlos Jereissati, onde fica o Jacarezal, segue como eixo de acesso e interesse, reforçando o caráter estratégico do território disputado.

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Publicado em 4 de novembro de 2025 às 13:48

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