Após pressão, Derrite recua, mas tenta travar PF no PL Antifacção
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📅 11/11/2025

Após pressão, Derrite recua, mas tenta travar PF no PL Antifacção

Relator bolsonarista retira trecho mais duro contra a PF, porém mantém limitações que irritam o governo Lula e a própria Polícia Federal.

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Ronny Teles

Ronny Teles

Combatente pela democracia

O bolsonarista Guilherme Derrite (PP-SP), deputado federal e secretário licenciado de Segurança Pública de São Paulo, apresentou na noite desta segunda-feira (10) uma nova versão de seu relatório para o Projeto de Lei 5.582/2025, o PL Antifacção, proposta do governo Lula enviada ao Congresso Nacional para fortalecer o combate ao crime organizado.

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Derrite retirou o trecho que tirava poderes da Polícia Federal (PF) para investigar organizações criminosas, mas a nova versão ainda limita a atuação da instituição, o que gerou críticas de integrantes do governo Lula e de parlamentares.

A escolha de Derrite pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para relatar o projeto já era alvo de questionamentos. As críticas aumentaram após a primeira versão, que enfraquecia a ação coordenada contra facções ao retirar poderes da PF previstos no texto original enviado por Lula.

Pelo relatório inicial de Derrite, a PF só poderia entrar em investigações de organizações criminosas quando tivessem alcance nacional e, mesmo assim, mediante autorização dos governos estaduais.

A reação foi imediata. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, disse que a retirada das atribuições da PF no relatório de Derrite representa "um presente para as facções que atuam em todo o país".

"As mudanças do relator Guilherme Derrite no Projeto de Lei Antifacção tiram a Polícia Federal do combate ao crime organizado. Isso é um presente para as facções que atuam em todo o país, inclusive no mercado financeiro, e que estão sendo enfrentadas com inteligência. As mudanças inviabilizam ações coordenadas contra a estrutura financeira das facções, como a Operação Carbono Oculto, e podem tumultuar os inquéritos e ações judiciais em andamento, porque alteram as competências da União e dos Estados, de forma inconstitucional. Na prática, as mudanças que o Secretário de Tarcísio de Freitas propõe, vão proteger a bandidagem e as facções, subvertendo totalmente o projeto enviado pelo governo do presidente Lula", disse a ministra em nota.

"E para piorar, ele mantém com outro nome a ideia de classificar facções como terroristas, que não resolve nada, mas é uma grave ameaça à soberania do país e nossas empresas. Crime organizado se combate com ações conjuntas e coordenadas, com planejamento e inteligência, como propõe a PEC da Segurança Pública que o governo enviou em abril à Câmara dos Deputados e esse projeto de Lei Antifacção", prosseguiu Gleisi.

A PF também divulgou nota e expressou preocupação com as mudanças propostas por Derrite.

"A Polícia Federal acompanha com preocupação as alterações produzidas pelo relatório sobre o Projeto de Lei Antifacção, atualmente em debate no Congresso Nacional. A proposta original, encaminhada pelo Governo do Brasil, tem como objetivo endurecer o combate ao crime e fortalecer as instituições responsáveis pelo enfrentamento às organizações criminosas. Entretanto, o texto em discussão no Parlamento ameaça esse propósito ao introduzir modificações estruturais que comprometem o interesse público", aponta o texto da PF.

"A execução de operações pela Polícia Federal dependeria de solicitação do governo estadual da região investigada, o que constitui um risco real de enfraquecimento no combate ao crime organizado. Essa alteração, somada à supressão de competências da Polícia Federal, compromete o alcance e os resultados das investigações, representando um verdadeiro retrocesso no enfrentamento aos crimes praticados por organizações criminosas, como corrupção, tráfico de drogas, desvios de recursos públicos, tráfico de pessoas, entre outros", prossegue o comunicado.

Diante da repercussão, o presidente da Câmara, Hugo Motta, intermediou uma reunião, na noite desta segunda-feira (10), entre Derrite e o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues. Logo depois, o relator apresentou uma nova versão do texto.

Nesta revisão, Derrite exclui o trecho mais criticado e propõe "garantir que a Polícia Federal participe das investigações de organizações criminosas, paramilitares ou milícias civis". Segundo ele, a PF atuará "em caráter cooperativo com a polícia estadual respectiva, sempre que os fatos investigados envolverem matérias de sua competência constitucional ou legal".

Na prática, porém, pouco muda: a PF seguiria atuando de forma "cooperativa" com as polícias estaduais e só poderia agir mediante solicitação do delegado estadual ou do Ministério Público estadual ou por iniciativa própria, desde que comunique previamente aos governos estaduais. A autonomia da PF continuaria limitada.

Para o governo e sua base no Congresso, a alteração é trocar "seis por meia dúzia". Marivaldo Pereira, secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, afirmou que o texto "continua muito ruim".

"O texto continua muito ruim. Ele retirou a exigência de provocação ao governador, mas mantém a lógica de transferir toda a competência às polícias civis ou de submetê-la à autorização do estado", afirmou.

Gleisi Hoffmann também reiterou posição contrária à nova versão apresentada por Derrite.

"Não há e não haverá acordo que suprima as competências, atribuições e autonomia da Policia Federal. Encaramos com preocupação qualquer manobra pra modificar o papel da PF no combate ao crime organizado", escreveu.

O líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), disse que o relatório foi feito "para domesticar a PF" e classificou o texto como inegociável.

"Acaba de sair o novo parecer do relator Derrite sobre o PL Antifacção. As alterações não mudam coisa alguma: ele continua atacando a Polícia Federal, tentando transformar um instrumento de Estado em refém de interesses políticos. É um texto feito para domesticar a PF e isso é inegociável! 'Algo deve mudar para que tudo continue como está.' A frase de Lampedusa descreve o truque: a PF só pode agir se houver solicitação estadual, ou — pasmem — se 'agir por iniciativa própria', precisa avisar antes, como se pedisse autorização. Estão com medo de uma operação surpresa?", escreveu o petista.

"O parecer ainda inclui todas as organizações criminosas, como facções, milícias, tráfico e grupos paramilitares, na condição de equiparáveis ao terrorismo, com o objetivo de blindar o crime organizado. Por trás disso está o braço político do crime, interessado em proteger agentes, contratos e emendas que a Operação Carbono Oculto começou a revelar. A matança de anônimos virou cortina de fumaça para esconder a aliança entre o poder e o crime. O Brasil não vai aceitar esse golpe de impunidade!", emendou Lindbergh.

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Publicado em 11 de novembro de 2025 às 11:14

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