Magno Malta usa CPI para abrir portas ao autoritarismo de Bukele
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📅 06/11/2025

Magno Malta usa CPI para abrir portas ao autoritarismo de Bukele

Senador bolsonarista apresentou requerimentos para convidar Nayib Bukele e levar a CPI do Crime Organizado a El Salvador, exaltando um modelo que a ONU já chamou de "um colapso do Estado de Direito".

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Ronny Teles

Ronny Teles

Combatente pela democracia

O senador Magno Malta (PL-ES) apresentou dois requerimentos na CPI do Crime Organizado que, na prática, transformam a comissão em palco de exaltação ao regime autoritário de Nayib Bukele, presidente de El Salvador. Em um dos pedidos, o bolsonarista solicita que o próprio Bukele seja convidado a "compartilhar ações e estratégias". No outro, requer que a CPI realize uma diligência internacional ao país para conhecer "in loco" as medidas do governo.

Nos requerimentos, Malta descreve o governo Bukele como um "caso notável de reversão drástica dos índices de criminalidade". O senador cita a queda da taxa de homicídios e destaca a construção da megaprisão para 40 mil detentos, símbolo da política de "tolerância zero" do regime.

O que o parlamentar ignora são as graves denúncias de violações de direitos humanos. O presidente de El Salvador é apontado pela Human Rights Watch e pela Anistia Internacional como responsável por implantar um regime de exceção permanente. Desde 2022, o país vive sob suspensão de garantias constitucionais, com prisões em massa, torturas e mortes sob custódia. Mais de 78 mil pessoas foram presas sem devido processo legal, levando a ONU a classificar a política como "um colapso do Estado de Direito".

Apesar disso, Bukele virou ídolo da extrema direita latino-americana e é frequentemente citado por Jair Bolsonaro e seus aliados. Malta, expoente religioso do bolsonarismo, tenta agora legitimar essa admiração por meio da CPI, transformando o espaço de investigação parlamentar em vitrine ideológica.

A Comissão foi criada para apurar causas estruturais das facções, mas os pedidos de Malta desviam o foco do trabalho técnico. Ao propor a visita ao Centro de Confinamento do Terrorismo (CECOT), prisão superlotada e denunciada por maus-tratos, o senador tenta importar para o debate um modelo de encarceramento em massa e militarismo, amplamente criticado por especialistas.

Magno Malta justifica seus pedidos como de "caráter técnico", mas os termos do requerimento deixam claro o viés. Ao afirmar que o "comparecimento de Bukele permitirá intercâmbio de informações", o senador naturaliza um regime acusado de perseguir opositores e censurar a imprensa.

A fascinação da extrema direita por Bukele, ecoada por Malta, é menos sobre um projeto de segurança e mais sobre um ideal de controle social. O "modelo" salvadorenho, que anula o devido processo legal, representa o autoritarismo higienista que o bolsonarismo sonha em implantar no Brasil: um sistema baseado em prisões cheias, adversários silenciados e sufocamento da imprensa.

Os requerimentos ainda precisam ser aprovados pela CPI. Parlamentares de oposição já se articulam para barrar a proposta, argumentando que o Senado brasileiro não pode servir de plataforma para regimes autoritários. A tentativa de Malta revela a projeção de um ideal de governo que, sob o pretexto de combater o crime, normaliza a supressão de direitos fundamentais.

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Publicado em 6 de novembro de 2025 às 23:23

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